sábado, 23 de janeiro de 2010

Tom Jobim - Matita Perê

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Foi a poucos anos que estava lendo uma entrevista do pianista Benjamim Taubkin e ele citou esse disco do Tom Jobim, especificamente a faixa "Crônica Da Casa Assassinada". Eu, que até então só conhecia "Águas De Março" e "Ana Luiza" (faixas integrantes do álbum), fiquei pra lá de curioso para conhecer o volume completo, consegui encontrá-lo e coloquei para rodar...

Só Deus sabe o que senti, que pancadaria! Overdoses de bom gosto a cada faixa, foi vício e paixão instantânea. Me perguntei o porque de não ter tido essa curiosidade antes, mas "tudo tem seu tempo", e "antes tarde do que nunca", é o que os provérbios populares nos ensinam.

O álbum chegou em minhas mãos na hora exata, talvez se estivesse ouvido antes não me pegaria tão forte quanto pegou. São 8 faixas no total, duas delas foram trilha sonora de filmes. "Tempo de Mar" fez parte do documentário homônimo do diretor Pedro de Moraes (tenho pouquíssima informação a respeito deste documentário) e "Crônica Da Casa Assassinada", trilha do filme "A Casa Assassinada", do diretor Paulo César Saraceni. Essa faixa dura cerca de 10 minutos e é um conjunto de 4 canções ('Último Trem Para Codisburgo', 'Chora Coração' - esta com letra de Vinícius de Moraes, 'O Jardim Abandonado' e 'Milagre e Palhaços'), com essa trilha Tom conquistou o prêmio Coruja de Ouro em 1972.

Nos restam ainda 6 faixas, então vamos do início. O álbum abre com "Águas De Março", música que já tinha sido lançada por Tom no primeiro volume do "Disco De Bolso", encarte do jornal semanário 'O Pasquim' em maio de 1972, aliás, a versão original me apetece demais. "Águas de Março" é originalmente um Samba-Rock! Nem Tom Jobim ficou imune ao sacundin e sua breve incursão pelo gênero foi relâmpago, porém, como não poderia deixar de ser, genial!

O álbum segue com "Ana Luiza", uma bela de uma declaração de amor (de desejo ardente) onde o protagonista (Tom no caso) questiona a rejeição a seu amor tão "puro". Grosseiramente falando, pelo que entendi, é a história do lobo mau e chapeuzinho, que insiste em não ser a comidinha dele, rsrsrs, é obrigatório tirar o chapéu para Tom, pois ele faz isso com uma elegância descomunal.

A faixa seguinte é a que deu nome ao álbum: "Matita Perê", parceria com o letrista Paulo César Pinheiro onde ambos mergulham nas lendas do folclore brasileiro, eles resgatam a lenda de "MatintaPereira", ou como foi nomeada a canção "Matita Perê", 7 minutos de puro deleite. A respeito da lenda consegui as seguintes informações:

Em "Vocabulário da Língua Geral" (pág.518), Stradelli diz:

MATINTAPEREIRA - Nome de uma pequena coruja, que se considera agourenta. Quando, a horas mortas da noite, ouvem cantar a mati-taperê, quem a ouve e está dentro de casa, diz logo: Matinta, amanhã podes vir buscar tabaco. "Desgraçado - deixou escrito Max J. Roberto, profundo conhecedor das coisas indígenas - quem na manhã seguinte chega primeiro àquela casa, porque será ele considerado como o mati. A razão é que, segundo a crença indígena, os feiticeiros e pajés se tranformam neste pássaro para se transportarem de um lugar para outro e exercer suas vinganças. Outros acreditam que o mati é uma maaiua, e então o que vai à noite gritando agoureiramente é um velho ou uma velha de uma só perna, que anda aos pulos"

Já em "Geografia dos Mitos Brasileiros", de Câmara Cascudo temos o seguinte verbete:

MATINTAPEREIRA (Mati, mati-taperê;) - A matintapereira é uma modalidade do mito do saci-pererê, na sua forma ornitomórfica. A matintapereira não é, realmente, uma coruja, como pensava Stradelli, mas um cuculida, Tapera naevia, Lin., também conhecido como Sem-Fim e Saci.

"Matita Perê" acaba sendo o início da fase 'folclórico-brasileira' de Tom Jobim. No álbum seguinte ele continua a falar de elementos similares. Fechando o Lado A do álbum temos a já citada "Tempo Do Mar". A única composição presente no disco que não leva a assinatura de Tom é "Mantiqueira Range", tema de Paulo Jobim que abre o Lado B. Em seguida temos "Crônica da Casa Assassinada" e outros dois temas que concluem o álbum: "Rancho Das Nuvens", que me arremete a trilha do filme Central Do Brasil, uma mostra bem clara da fonte onde Antônio Pinto bebeu, e "Nuvens Douradas".

Como bônus acrescentei a versão original de "Águas De Março", que cito ali em cima. A ficha técnica do álbum vou deixar nos link abaixo pois já me alonguei demais no texto, rsrsrs.

É isso aí!!! E também...

"...É pau é pedra é o fim do caminho / É um resto de toco é um pouco sozinho..."



Para Baixar e Sair Sacundindo: Tom Jobim - 1973 - Matita Perê



Para Saber Mais: Ficha Técnica Matita Perê - Curiosidades Sobre Os Arranjos - Bio Tom Jobim



Para Assistir e Sacundir: Matita Perê (Com Milton Nascimento) - Águas De Março (Elis & Tom)



Postado Por Marcel Cruz

Um comentário:

Johnny disse...

Ótimo texto, ótimo disco. Obrigadíssimo pelo link. :)