quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Baden Powell - Os Afro Sambas De Baden e Vinícius


Opa, Opa, Opa!!! Vocês acharam mesmo que eu ia comentar sobre esse álbum e passar batido? É claro que não, rsrsrs, até porque seria impossível... O segundo dos meus três preferidos de Baden.
O álbum foi lançado em 1966, e pesquisando sobre, descobri que a concepção se deu em 1962, ou seja, na época da gravação do "Swings..." ali em baixo.
Aproveitando a deixa, vou falar das minhas conclusões a respeito de Baden Powell:
Gênio absoluto, Baden é o cara que foi/é tão importante (ou mais, esse tipo de atribuição é extremamente delicada) quanto João Gilberto. Se João teve a grande sacada de sintetizar no violão a bateria da escola de samba, Baden, por outro lado, fez a sínteze da percussão dos terreiros de Umbanda, Candomblé e cultos afros de forma geral, são esses elementos que a gente encontra no violão "Badenpowelliano".
Os Afro-Sambas foram/estão de certo modo inseridos e diluídos dentro da Bossa Nova, quando deveriam ser considerados como um movimento a parte e único. Isso não é Bossa Nova que fique bem claro, não tem nada de "O Amor, o Sorriso e a Flor". Por aqui, temos algo muito mais visceral, muito mais porrada, passividade não tem vez, como vemos em 'Tempo de Amor': "...Ah, não existe coisa mais triste que ter Paz, e se arrepender, e se conformar, e se proteger de um amor a mais..." ou em 'Berimbau' (que não foi incluída no disco, mas é da safra): "...Capoeira me mandou dizer que já chegou, chegou para lutar... Berimbau me confirmou, Vai ter briga de amor, tristeza camará..." ou ainda em 'Canto de Ossanha': "...Coitado do homem que vai atrás de mandinga de Amor...".
Ao todo, segundo o que se tem notícia, foram 25 composições, pro álbum eles selecionaram 8 delas e gravaram sob arranjos e regência do Maestro Guerra Peixe, as participações de Betty Faria (!!!??) - é isso mesmo, a atriz, bem essa que você está pensando - que divide o vocal da faixa "Canto de Ossanha" com Vinícius e do Quarteto em Cy, nessa e nas demais são perfeitas. A concepção do álbum, impecável.
Um fato curioso é que Baden, não sei ao certo, mas creio, que nos últimos 10 anos de vida renegou esse álbum e sequer gostava de citar que o tinha concebido. O motivo? O que se comenta é que tal 'desfeita' se deve ao fato de Baden ter virado evangélico, logo, essa obra passou a ser coisa do Demônio!!! rsrsrs. Dou graças que isso não aconteceu com ele antes de 1962, pois correríamos o enorme risco da inexistência dessa obra-prima. E... saravá!!!!
"...Sou da linha de Umbanda... Vou num babalaôô, Para pedir pra ela voltar pra mim... Porque assim eu sei que vou morrer de dor..."

Para Baixar e Sair Sacundindo: Mais um link sendo extinto devido a uma notificação sobre infração de direitos autorais, e assim vamos nós! Discos que aqui não são reeditados, agora engavetados e impedidos de chegarem a um público maior, frente a esse panorama eu pergunto: Vocês acham que os artistas que geraram a obra achariam isso legal?


Para Saber Mais: Texto a respeito dos Afro Sambas

Postado Por Marcel Cruz

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Gilberto Gil - Expresso 2222


Não, eu não abandonei o Sacundin! rsrs. Estou aqui novamente, é que a correria tá grande.
Bom, dando continuidade a nossa saga pós-tropicalista seguimos com outra série de porradas 'GilbertoGiltianas'.
"Expresso 2222", primeiro lançamento pós-exílio de Gilberto Gil, mostra ele em altíssima forma, o gênio retornou pra terra natal mais genial do que nunca. O álbum deixa bem claro a visceralidade contida num Gil que matava a saudade de seu berço, mas que também soube fazer uso de forma magistral do exílio trazendo uma bagagem que serviria como 'divisora de águas' dentro de sua carreira. Todas as transformações passadas pelo baiano resultaram num material denso e consistente, com uma pegada rock'n'roll, porém, incrustrado de brasilidade de "cabo a rabo". Um trabalho que revela pro mundo um Gil agora dono de uma maturidade musical que aumentava a cada dia.
Gil escolheu como tema de abertura do álbum a música "Pipoca Moderna", de Sebastião Biano, música que em 1975 ganharia letra de Caetano Veloso, essa gravação acabou sendo a estréia em disco de um dos grupos mais tradicionais do nordeste, a Banda De Pífanos De Caruaru. Sobre a gênese dessa escolha encontrei o seguinte texto escrito por Caetano Veloso:
"...Em 67 Gil passou um tempo no Recife. De lá ele trouxe o pique para o tropicalismo. E, principalmente, uma fita cassete com o som da banda de pífanos de Caruaru. Desde então, a pipoca moderna ficou em nossa cabeça, alguma coisa transando entre os neurônios, uma joiazinha de iluminação. De lá até aqui não perdi a esperança. sou feliz na pipoca desse canto e isso é muito firme. Estou inteiro quando há esse canto de pipoca moderna..."
No livro 'Verdade Tropical' ainda há comentários que dizem que o encontro com a banda de pífanos fez Gilberto Gil compreender a música popular como um meio de cultura de massa e o nacionalismo das canções de protesto como algo sem sentido e ultrapassado. A viagem a Pernambuco teria fornecido ao compositor baiano os dois limites entre os quais, do seu ponto de vista, deveria se referenciar a Música Popular Brasileira: a Banda de Pífanos de Caruaru e os Beatles. Nas páginas 130 a 134 do livro está tudo mais detalhado aqui é só um resuminho.
É a partir da segunda faixa que o Gilberto Gil começa aparecer de fato, mas primeiro vamos falar do time envolvido na empreitada. Gil, sempre em boa companhia, conta com um quarteto formado por Lanny Gordin (Baixo e Guitarra), Bruce Henry (Baixo), Antonio Perna (Piano e Selesta) e Tutty Moreno (Bateria e Percussão). Como se não bastasse ainda temos a participação de Gal Costa em uma das faixas.
A segunda faixa do álbum, "Back In Bahia", é uma espécie de balanço e desabafo das sensações e reflexões que o exílio proporcionou, Gil encerra a letra de uma forma incrível, veja:
"...Onde não sei se por sorte ou por castigo dei de parar / Por algum tempo / Que afinal passou depressa, / como tudo tem de passar / Hoje eu me sinto / Como se ter ido fosse necessário para voltar / Tanto mais vivo / De vida mais vivida, dividida / Pra lá e pra cá. "
Genial!
Em seguida temos a versão mais 'roquenrou' já feita de "Canto Da Ema", música de Ayres Viana, Alventino Cavalcante e João do Vale, que fez enorme sucesso na voz de Jackson do Pandeiro. Gil transmuta o baião que entra em nossos ouvidos nos deixando atordoados! A concepção do arranjo, os improvisos e a versatilidade de Gil deixam qualquer um impressionado.
Seguindo, Gil faz releitura de outro clássico que fez e faz sucesso até hoje, "Chiclete Com Banana", composição de Gordurinha e Almira Castilho, que também foi gravada originalmente por Jackson Do Pandeiro. Fechando o Lado A temos "Ele e Eu", uma das composições mais estranhas que já ouvi, realmente não sei dizer se gosto ou desgosto.
O Lado B abre com a excelente "Sai Do Sereno", composição de Onildo Almeida que conta com a participação de Gal Costa nos vocais. Eu sempre me deparo com textos creditando a mistura de 'roquenrou' com ritmos nordestinos, o "Forróck", a AlceuValença, eu discordo em número e grau, pra mim quem começa essa história é Gil e a gênese está aqui. Não me recordo de ter ouvido nada semelhante antes, talvez Antônio Carlos & Jocafi, mas ainda assim não vejo como intenção consciente.
Na seqüência entra em cena a faixa título "Expresso 2222". Gil optou por usar apenas violão e percussão para o acompanhar, nela e nas seguintes ele coloca a mostra todo o suingue contido em seu violão, simplesmente genial, ou melhor, 'gilnial', rsrsrs. Mais duas e concluimos o volume, são elas "O sonho acabou" e a enigmática "Oriente", gravada por Elis Regina em 1973.
Como bônus acrescentei "Cada Macaco No Seu Galho", composição de outro baianinho arretado chamado Riachão, essa conta com a participação de Caetano Veloso e foi gravada ao término das sessões do Lp e incluída como lado B do compacto "Chiclete Com Banana".
Além disso também incluí no arquivo dois vídeos de Gil. Logo que chegaram do exílio, Gil e Caetano fizeram um show juntos, é desse show as duas músicas: "Expresso 2222", onde como no álbum temos apenas Gil com seu violão e "Back in Bahia", com banda completinha. O momento mais engraçado dessa última é no finalzinho quando Caetano entra em cena e pira total! Um sarro. Deixei os links desses vídeos ali em baixo também. Espero que gostem...

"...O sonho acabou, quem não dormiu no sleeping-bag nem se quer sonhou..."

Para Baixar e Sair Sacundindo: Por causa deste link fui notificado como infrator dos direitos autorais (o que sabemos que não é bem a real) por isso é que o mesmo foi retirado

Para Assistir e Ficar Sacundindo: Expresso 2222 - Back In Bahia


Postado Por Marcel Cruz

Caetano Veloso - Transa


Apesar dos ecos serem ainda grandes já estamos bastante distantes do considerado historicamente como movimento Tropicalista. 1972 é o ano que vejo como conclusão de um ciclo iniciado em fins de 1967.
Em Janeiro os baianos voltaram do exílio, a coisa aqui continuava pegando fogo pois o país ainda estava sob a batuta de Médici. Em 1972/1973 foram realizados vários eventos culturais de fachada para mostrar que estava tudo bem. É nesse clima que nasce de fato um dos álbuns mais geniais de Caetano, senão 'O' mais genial, "Transa", que, segundo o que li foi uma alusão à "Transamazônica" que começava a ser construída.
As gravações tinham sido realizadas no semestre anterior em Londres para o selo FAMOUS, seria o segundo trabalho de Caetano nesse selo, o lançamento no Brasil aconteceu em Março de 1972.
O time que participa do álbum é outra reunião de feras: Jards Macalé, que também lançaria seu primeiro Lp em 1972 foi o responsável pelas guitarras e pela direção musical do disco, na bateria temos o genial Tutti Moreno, na percussão Áureo de Souza e no baixo o excelente Moacyr Albuquerque que faz toda a diferença, violentíssimo!
Na ficha técnica contida no encarte do Lp temos a seguinte informação: "Guitarra baixo: Áureo de Souza e Tutti Moreno" e como vimos ambos são percussionista e baterista. O álbum ainda conta com a participação de Gal Costa em 3 faixas e de Angela Roró tocando gaita de boca em "Nostatalgia". Outra falha existente no encarte é com relação a esta última informação, lá temos: "Flauta: Angela Roró (na faixa Nostalgia)", quando na verdade é Gaita de Boca.
O repertório é composto por 7 faixas das quais 6 são de autoria de Caetano e uma, "Mora Na Filosofia", é de Monsueto Menezes. Apesar da maioria das composições serem de Caetano e em inglês, ele faz uso de inúmeras músicas incidentais para engrossar o caldo de suas composições, todas em português e a maioria delas de outros compositores, uma forma de homenagem e também, creio eu, de mostrar o que influênciava sua música.
A faixa que abre o volume é a singular "You Don't Know Me". Na primeira vez que a canção é cantada, Caetano acrescenta ao refrão 2 citações. A primeira é "Maria Moita", composição de Carlos Lyra (...Nasci lá na Bahia, de mucama com feitor...) e a segunda é "Reza" de Edu Lobo (...Laia Ladaia Sabatana Ave Maria...), já na repetição Caetano faz uma auto citação colocando um pedaço de "Saudosismo", cantada simultâneamente por Gal Costa na primeira parte e, no refrão, além das duas citadas acima ele finaliza com "Hora Do Adeus" de Luiz Gonzaga (...Eu agradeço ao povo brasileiro...), ficou genial!
A segunda faixa contida no álbum é "Nine Out of Ten", o reggae entrando em cena por aqui. Veja o que Caetano disse a respeito numa entrevista cedida à jornalista do Jornal Do Brasil Márcia Cezimbra em 16 de Maio de 1991:
"...A minha melhor música em inglês. É histórica. É a primeira vez que uma música brasileira toca alguns compassos de reggae, um vinheta no começo e no fim. Muito antes de John Lennon, de Mick Jagger e até de Paul McCartney. Eu e o Péricles Cavalcanti descobrimos o reggae em Portobelo Road e me encantou logo. Bob Marley & The Waillers foram a melhor coisa dos anos 70..."
Na terceira faixa intitulada "Triste Bahia" Caetano coloca melodia nas duas primeiras estrofes do poema "À cidade da Bahia", do poeta baiano/português Gregório de Mattos e acrescenta alguns sambas de roda, cantigas de capoeira e afoxés a ela, a composição, instrumentação e o arranjo ficaram fenomenais.
"It's a Long Way", quarta faixa do álbum é ainda mais incrível, com certeza uma das que estão entre o Top 10 de Caetano e mais uma vez Caetano fazendo a festa com citações extremamente bem escolhidas. A faixa inicia num tom bem solene que vai ganhando corpo até chegar no refrão tudo num crescendo fantástico. No refrão Caetano repete a fórmula usada em "You Don't Know Me" e intercala quatro canções iniciando com uma composição do pernambucano Zé Do Norte, chamada "Sodade, Meu Bem Sodade", depois dessa vem uma que não sei de quem é a autoria, pode ser que seja de Caetano mesmo, os versos são o seguinte: "...Àgua com areia, brinca na beira do mar, a àgua passa a areia fica no lugar...". A outra que aparece é "Consolação", de Baden e Vinícius que Caetano emenda com "A Lenda Do Abaeté", de Caymmi fechando com chave de ouro a composição.
Quando a gente pensa que já ouviu o suficiente ele vem com outra porrada. "Mora Na Filosofia", de Monsueto Menezes e Arnaldo Passos é a "única" releitura declarada contida no álbum. Ela inicia com o baixo de Moacyr Albuquerque, seguido por Macalé que improvisa um pouco e entra num ostinato, a voz de Caetano vem lá do fundo num crescendo iniciando assim o fluxo melódico da composição, geniaaaaal!!!! E ainda tem a batera pra entrar, a percussão... fooooda! Só ouvindo pra ter noção. A finalização é extremamente rock'n'roll, chega que já to sem fôlego! rsrs.
Estamos na reta final, mais duas e concluimos o volume. "Neolithic Man", nessa Caetano e banda acompanhados por Gal caem na loucura total pra finalizar, excelente! rsrs. Fechando a odisséia temos "Nostalgia (That's What Rock'n'Roll Is All About)", como o título já entrega, Rock'n'Roll na veia! Composição nos moldes dos primórdios do gênero, com direito a Gaita de Boca e tudo, não poderia ser melhor.
Acabou? Não! rsrs. Tem a arte gráfica do álbum que é um caso a parte. O projeto gráfico é assinado por Álvaro Guimarães e Aldo Luiz. A capa é composta por três abas que quando encaixadas formam o que eles denominaram de "Disco-Objeto", parece uma capela ou um display, simplesmente genial, é , junto com a capa de "Expresso 2222" de Gil, a capa de Lp mais foda da música brasileira. Toda vez que a abro fico estupefato. Demais! Mandei ela escaneada no arquivo pra quem quiser se aventurar a monta-la, rsrs.
Apesar da capa ser genial Caetano ficou puto pelo fato de Álvaro Guimarães ter esquecido de colocar a ficha técnica com os créditos para quem participou das gravações, na verdade colocou alguns mas como vocês devem ter notado tudo errado, rsrs.
Sobre o álbum, Caetano declarou na mesma entrevista citada acima:
"...Chamei os amigos para gravar em Londres. Os arranjos são de Jards Macalé, Tutti Moreno, Moacyr Albuquerque e Àureo de Sousa. Não saíram na ficha técnica e eu tive maior briga com meu amigo que fez a capa. Como é que bota essa bobagem de dobra e desdobra, parece que vai fazer um abajour com a capa, e não bota a ficha técnica? Era importantíssimo. Era um trabalho orgânico, espontâneo, e meu primeiro disco de grupo, gravado quase como um show ao vivo...".
Precisa dizer mais alguma coisa? rsrsrs.

"...You don't know me, Bet You'll never get to know me..."


Para Baixar e Sair Sacundindo: Por causa deste link fui notificado como infrator dos direitos autorais (o que sabemos que não é bem a real) por isso é que o mesmo foi retirado



Postado Por Marcel Cruz