quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Caetano Veloso - Transa


Apesar dos ecos serem ainda grandes já estamos bastante distantes do considerado historicamente como movimento Tropicalista. 1972 é o ano que vejo como conclusão de um ciclo iniciado em fins de 1967.
Em Janeiro os baianos voltaram do exílio, a coisa aqui continuava pegando fogo pois o país ainda estava sob a batuta de Médici. Em 1972/1973 foram realizados vários eventos culturais de fachada para mostrar que estava tudo bem. É nesse clima que nasce de fato um dos álbuns mais geniais de Caetano, senão 'O' mais genial, "Transa", que, segundo o que li foi uma alusão à "Transamazônica" que começava a ser construída.
As gravações tinham sido realizadas no semestre anterior em Londres para o selo FAMOUS, seria o segundo trabalho de Caetano nesse selo, o lançamento no Brasil aconteceu em Março de 1972.
O time que participa do álbum é outra reunião de feras: Jards Macalé, que também lançaria seu primeiro Lp em 1972 foi o responsável pelas guitarras e pela direção musical do disco, na bateria temos o genial Tutti Moreno, na percussão Áureo de Souza e no baixo o excelente Moacyr Albuquerque que faz toda a diferença, violentíssimo!
Na ficha técnica contida no encarte do Lp temos a seguinte informação: "Guitarra baixo: Áureo de Souza e Tutti Moreno" e como vimos ambos são percussionista e baterista. O álbum ainda conta com a participação de Gal Costa em 3 faixas e de Angela Roró tocando gaita de boca em "Nostatalgia". Outra falha existente no encarte é com relação a esta última informação, lá temos: "Flauta: Angela Roró (na faixa Nostalgia)", quando na verdade é Gaita de Boca.
O repertório é composto por 7 faixas das quais 6 são de autoria de Caetano e uma, "Mora Na Filosofia", é de Monsueto Menezes. Apesar da maioria das composições serem de Caetano e em inglês, ele faz uso de inúmeras músicas incidentais para engrossar o caldo de suas composições, todas em português e a maioria delas de outros compositores, uma forma de homenagem e também, creio eu, de mostrar o que influênciava sua música.
A faixa que abre o volume é a singular "You Don't Know Me". Na primeira vez que a canção é cantada, Caetano acrescenta ao refrão 2 citações. A primeira é "Maria Moita", composição de Carlos Lyra (...Nasci lá na Bahia, de mucama com feitor...) e a segunda é "Reza" de Edu Lobo (...Laia Ladaia Sabatana Ave Maria...), já na repetição Caetano faz uma auto citação colocando um pedaço de "Saudosismo", cantada simultâneamente por Gal Costa na primeira parte e, no refrão, além das duas citadas acima ele finaliza com "Hora Do Adeus" de Luiz Gonzaga (...Eu agradeço ao povo brasileiro...), ficou genial!
A segunda faixa contida no álbum é "Nine Out of Ten", o reggae entrando em cena por aqui. Veja o que Caetano disse a respeito numa entrevista cedida à jornalista do Jornal Do Brasil Márcia Cezimbra em 16 de Maio de 1991:
"...A minha melhor música em inglês. É histórica. É a primeira vez que uma música brasileira toca alguns compassos de reggae, um vinheta no começo e no fim. Muito antes de John Lennon, de Mick Jagger e até de Paul McCartney. Eu e o Péricles Cavalcanti descobrimos o reggae em Portobelo Road e me encantou logo. Bob Marley & The Waillers foram a melhor coisa dos anos 70..."
Na terceira faixa intitulada "Triste Bahia" Caetano coloca melodia nas duas primeiras estrofes do poema "À cidade da Bahia", do poeta baiano/português Gregório de Mattos e acrescenta alguns sambas de roda, cantigas de capoeira e afoxés a ela, a composição, instrumentação e o arranjo ficaram fenomenais.
"It's a Long Way", quarta faixa do álbum é ainda mais incrível, com certeza uma das que estão entre o Top 10 de Caetano e mais uma vez Caetano fazendo a festa com citações extremamente bem escolhidas. A faixa inicia num tom bem solene que vai ganhando corpo até chegar no refrão tudo num crescendo fantástico. No refrão Caetano repete a fórmula usada em "You Don't Know Me" e intercala quatro canções iniciando com uma composição do pernambucano Zé Do Norte, chamada "Sodade, Meu Bem Sodade", depois dessa vem uma que não sei de quem é a autoria, pode ser que seja de Caetano mesmo, os versos são o seguinte: "...Àgua com areia, brinca na beira do mar, a àgua passa a areia fica no lugar...". A outra que aparece é "Consolação", de Baden e Vinícius que Caetano emenda com "A Lenda Do Abaeté", de Caymmi fechando com chave de ouro a composição.
Quando a gente pensa que já ouviu o suficiente ele vem com outra porrada. "Mora Na Filosofia", de Monsueto Menezes e Arnaldo Passos é a "única" releitura declarada contida no álbum. Ela inicia com o baixo de Moacyr Albuquerque, seguido por Macalé que improvisa um pouco e entra num ostinato, a voz de Caetano vem lá do fundo num crescendo iniciando assim o fluxo melódico da composição, geniaaaaal!!!! E ainda tem a batera pra entrar, a percussão... fooooda! Só ouvindo pra ter noção. A finalização é extremamente rock'n'roll, chega que já to sem fôlego! rsrs.
Estamos na reta final, mais duas e concluimos o volume. "Neolithic Man", nessa Caetano e banda acompanhados por Gal caem na loucura total pra finalizar, excelente! rsrs. Fechando a odisséia temos "Nostalgia (That's What Rock'n'Roll Is All About)", como o título já entrega, Rock'n'Roll na veia! Composição nos moldes dos primórdios do gênero, com direito a Gaita de Boca e tudo, não poderia ser melhor.
Acabou? Não! rsrs. Tem a arte gráfica do álbum que é um caso a parte. O projeto gráfico é assinado por Álvaro Guimarães e Aldo Luiz. A capa é composta por três abas que quando encaixadas formam o que eles denominaram de "Disco-Objeto", parece uma capela ou um display, simplesmente genial, é , junto com a capa de "Expresso 2222" de Gil, a capa de Lp mais foda da música brasileira. Toda vez que a abro fico estupefato. Demais! Mandei ela escaneada no arquivo pra quem quiser se aventurar a monta-la, rsrs.
Apesar da capa ser genial Caetano ficou puto pelo fato de Álvaro Guimarães ter esquecido de colocar a ficha técnica com os créditos para quem participou das gravações, na verdade colocou alguns mas como vocês devem ter notado tudo errado, rsrs.
Sobre o álbum, Caetano declarou na mesma entrevista citada acima:
"...Chamei os amigos para gravar em Londres. Os arranjos são de Jards Macalé, Tutti Moreno, Moacyr Albuquerque e Àureo de Sousa. Não saíram na ficha técnica e eu tive maior briga com meu amigo que fez a capa. Como é que bota essa bobagem de dobra e desdobra, parece que vai fazer um abajour com a capa, e não bota a ficha técnica? Era importantíssimo. Era um trabalho orgânico, espontâneo, e meu primeiro disco de grupo, gravado quase como um show ao vivo...".
Precisa dizer mais alguma coisa? rsrsrs.

"...You don't know me, Bet You'll never get to know me..."


Para Baixar e Sair Sacundindo: Por causa deste link fui notificado como infrator dos direitos autorais (o que sabemos que não é bem a real) por isso é que o mesmo foi retirado



Postado Por Marcel Cruz

4 comentários:

Drews disse...

YESSSS!!! Juro que esse eu esperei!! Perdi o CD de uma amiga faz uns 3 anos e finalmente vou poder devolver! Valeeeu garoto! t+

mário borba disse...

bahh! mandou muito bem cara! colocando esse disco antológico do caetano e na leitura que fizeste dele. o mesmo vale pros baHianos e a consuelo no final do juízo que conheci por aqui. parabéns mesmo. abraço

Tadeu disse...

Adoro esse LP (é.. eu tenho o LP>>>)
Meu elogio para vc é pela valiosa e excepcional dissecada feita faixa a faixa... Parabens.

r herz disse...

esse cd é maravilhoso, realmente um dos melhores do caetano!
adorei também o post sobre ele, mesmo tendo escutado várias vezes, não sabia de várias coisas...
ótimo blog, parabéns!