terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Caetano Veloso - Caetano Veloso (Álbum Branco)

É engraçado reparar a maneira de como uma mesma situação é contornada por pessoas distintas.

1969 não foi um ano nada fácil, nem pra Gil, nem pra Caetano. Ambos passaram pelos mesmos dilemas, estavam juntos naquela sucessão de fatos, porém, enquanto Gil se munia de pensamentos ultra positivos e tentava ver o lado "aproveitável" da situação, embora tal empreitada fosse um tanto árdua, Caetano se afundava em depressão.

Ambos foram expulsos e exilados. Gil se embrenhou por Londres e em pouco tempo estava fazendo shows por lá, já Caetano...

Nos álbuns que ambos deixaram antes de partir fica bem claro o efeito do exilio sobre cada um. O de Gil está ali embaixo e o de Caetano vamos comentar agora.

Bom... o álbum, como o de Gil, conta com o trabalho genial de Rogério Duprat, que recebeu os tapes com os vocais e os acompanhamentos de violão, executados por Gil, pouco antes da partida deles. O time de músicos foi praticamente o mesmo em ambos os álbuns, ou seja, "The Drem Team": Lanny Gordin que rouba a cena geral com sua guitarra alucinógina, Wilson Das Neves, o rei do groove, batera na medida exata, Sergio Barroso na "baixaria", o gênio Chiquinho De Moraes no Piano e Orgão e pra fechar a escalação, na seção rítmica, Tião Motorista .

O clima do álbum, apesar de umas faixas pseudo-alegres, é bem deprê e a meu ver bem existêncialista. Abre o volume a faixa "Irene", um baião pra lá de bonito que Duprat incrementou com um arranjo excelente e deu uma valorizada num momento que era supostamente erro de gravação. Na letra, Caetano enfatiza o "...Eu não sou daqui, Eu não tenho nada...", princípio de uma sucessão de versos existencialistas ao longo do disco. A segunda faixa foi escrita em inglês e leva o nome de "The Empty Boat", tem uma letra desoladora que associada ao arranjo de Duprat pode levar o nego a cortar os pulsos, rsrsrs. A seguinte é uma adaptação de Caetano para uma canção de domínio público bastante conhecida chamada "Marinheiro Só", mais uma vez na letra o ênfase do "...eu não sou daqui...". Essa faixa serviu de base para outra composição, que Caetano gravou dois anos depois em seu primeiro álbum gringo, com o nome de "If You Hold a Stone". Seguindo temos outra em inglês, "Lost In The Paradise", mais existencialismo numa melodia genial "...My little grasshopper Airplane Cannot fly very high (...) I'm lost in my old in my own green light..." e pra fechar o refrão "...Just let me say who am I...".

Mais duas faixas e temos o lado A do Lp fechado, são elas: "Atrás do trio elétrico", um frevo arretado com intervenções "guitarrísticas" muito bem colocadas por Lanny, e a outra, um fado com a famosa citação do poeta português Fernando Pessoa que já é citação de outro (Pompeo - 106-48 a.C): "Navegar é preciso, Viver não é preciso", a música ganhou o nome de "Os Argonautas".

O Lado B abre com uma melancólica versão de "Carolina", composição de Chico Buarque, seguida de um tango do argentino Enrique Santos Discépolo, a composição é de 1935, e sofreu uma pequena adaptação de Caetano que no lugar de:

"...Mezclao con Stavinsky va Don Bosco y "La Mignón", Don Chicho y Napoleón, Carnera y San Martín..."

canta:

"...Mezclao con Toscanini, Ringo Star y Napoléon, Don Bosco y Marinón, John Lennon y San Martín..."

Caetano incluiu dois integrantes dos Beatles no meio do tango! rsrsrs. Apesar da data de publicação (1935), a composição é de uma atualidade incrível, sem falar que o arranjo do Duprat... (como eu babo ovo pra esse cara! rsrsrs), mas seguindo temos o 'Iê-Iê-Iê Romântico' "Não Identificado", composição gravada por Gal no mesmo período. Caetano segue fazendo bonito com uma releitura, que se tornaria clássica, de Fernando Lobo, "Chuvas De Verão", lançada originalmente em 1949 na voz de Francisco Alves.

O que segue é uma parceria entre Caetano, Rogério Duarte e Rogério Duprat, "Acrilírico", na mesma linha de "Objeto Semi-Identificado", do disco de Gil, porém, um pouco mais contida, Gil, Rogério Duarte e Jussara Moares participam da faixa. Fechando o lado B temos a genial "Alfômega", composição de Gil. Em 1998 o Pato Fu fez uma versão pra lá de escrota dessa música e deu o nome de "A Necrofilia Da Arte", totalmente dispensável, a original é genial!

Como faixa bônus acrescentei no arquivo "Charles, Anjo 45", composição de Jorge Ben que participa da gravação. Essa faixa foi lançada apenas em compacto. É isso aí!!!

"...Eu quero ir minha gente, Eu não sou daqui, Eu não tenho nada, Quero ver Irene rir, Quero ver Irene dar sua risada..."



Para Baixar e Sair Sacundindo: Caetano Veloso - 1969 - Caetano Veloso (Álbum Branco)


Para Saber Mais: Whitealbum


Postado Por Marcel Cruz

Um comentário:

Aceventura disse...

Esse disco é foda! E acho "A Necrofilia da Arte" do Pato Fu fuito boa!