sexta-feira, 17 de junho de 2011

Kiko Dinucci - Metámetá

Sabem aqueles discos que a principio você não espera muito, mas mesmo assim põe pra rodar porque foi uma indicação de um amigo de confiança?(de novo o Fernando Rischbieter - Fêrni - do Stella, sim o mesmo mencionado na postagem anterior). Você diz massa, vou ouvir, da uma passadinha nas faixas mas não ouve na hora. Aí numa tarde qualquer, ou cair da noite, você resolve parar pra ouvir...

Vai a primeira musica, você diz, puxa vida é bom, vem a segunda você pensa: puxa, é bom mesmo, terceira, caraca é muito bom!!! E por aí vai. Isso acaba de acontecer comigo e o álbum em questão é o "MetáMetá", do 'multiartistapaulista' Kiko Dinucci. Como era de se esperar de um trabalho como esse... To chapando paracarááááááááleo, rs.

O disco vai te ganhando a cada faixa, são 10, na décima você está amando loucamente e pronto para por para ouvir outra vez.

Dinucci não está sozinho nessa, pelo contrário, vem extremamente bem acompanhado. Os vocais, na maioria das faixas, ficaram a cargo de Juçara Marçal, dona de umas das mais belas vozes que já ouvi, os saxes e flautas ficaram a cargo de Thiago França. A elegância do som de Thiago é outro elemento que potencializa a unicidade estética do álbum.

Se prepare para viciar! Esse som ao entrar em seus ouvidos faz com que o cérebro libere uma substância cientificamente denominada de 'viciusmetá' e o organismo atingido sentirá a necessidade de ouvir mais e mais o "Metámetá". Ainda não tenho idéia de quanto tempo dura o vício ou como é a crise de abstinência, pois acabo de virar um "freakmetá", mas não estou sozinho, já tenho notícias de outros viciados. Essa audiodrug está a apenas um mês no mercado, um dos fatores que contribui ainda mais para sua disseminação é que ela é grátis, você pode consegui-la aqui mesmo - virei fornecedor, kkk - ou no 'sítio' do próprio criador.

Brincadeiras a parte, estamos diante de uma obra prima de primeira grandeza. A linha composicional de Kiko é desconcertante, ele tem uma 'finesse' incrível para compor, todas as faixas foram muito bem concebidas e trabalhadíssimas. Outra sacada genial foi a disposição das faixas no album, não poderia ter sequência melhor, pois ao término da penúltima música contida no volume Kiko, Jussara e Thiago, a santíssima trindade, inevitavelmente, conseguiram deixar seus ouvintes extasiados. O golpe fatal vem em forma de afrobeat, "Ora Iê Iê O" que retoma "Oranian" e "Oba Iná" 7ª e 8ª do disco. Ouvindo com mais atenção da para sacar bem o que seria um suposto lado A e um Lado B, a sequencia parece ter sido pensada para o formato de LP.

Influências mil todas muito bem utilizadas. "Samuel", por exemplo, uma das minhas preferidas me arremete a Baden, enxergo João Gilberto em "Obatalá", Fela Kuti diluído e assumido ao longo do álbum e por aí vai, são tantos em um só que realmente emociona.

Mas chega de devaneios! Tirem vocês suas próprias conclusões... Salve Kiko e obrigado por um som tão bom como este!


"...Abram caminhos para o Rei, sorriam ao invés de se curvar..."


PS* Quem segura as bateras do disco é o excelente Sergio Machado, que diga-se de passagem, honra o sobrenome que tem.



Para Baixar e Sair Sacundindo: Kiko Dinucci - 2011 - Metámetá


Para Assistir e Sacundir: Entrevista Metrópolis 2010 Parte 1 - Parte 2




Postado Por Marcel Cruz

terça-feira, 14 de junho de 2011

Copacabana Club - Tropical Splash

Esses dias conversando com o Fêrni do Stella-Viva, saiu o comentário de que santo de casa não faz milagres. A gente até riu da ironia e sarcasmo da sentença, mas, meus queridos, ultimamente nossos santos têm feito milagres a torto e direito.

Confesso que tenho sido bastante omisso com relação ao som que se tem produzido nessa minha cidade, e não por não gostar, mas pelo fato de que o blog em si não tem o caráter de divulgação e tal. Na verdade aqui só aparece o que de fato me bate batendo, sabem aquela sensação de espancamento que você sente quando põe um álbum pra rodar e tal, são os discos que me causam isso que figuram no repertório sacundíndico.

Mas não achem vocês que esses "milagres" estão acontecendo do dia pra noite, já tem um tempinho que vejo coisas geniais pipocando por aqui, eu é que fiquei acompanhando a distância sem muito falar, até então da terrinha só tinha aparecido o trabalho do Wandula e do Marcelo Torrone.

Porém, o disco de estréia (desconsiderando o EP) do "Copacabana Club", que acaba de ser lançado, me fez sair do meu "curitimusicomudismo". Ouvindo o "Tropical Splash" senti um puta orgulho de, além de ser amigo de um dos integrantes, ser da mesma cidade dos 'Copacabanas' (nossa, como coube tanto bairrismo numa mini frase dessa? rsrsrs).

O conjunto da obra está tão coeso e com uma consistência tão foda que você pode ouvi-lo inúmeras vezes sem se cansar, aliás, se for cansar talvez seja de dançar, porque você inevitavelmente dança ao ouví-lo. É um álbum que dispensa ficar procurando as referências desse ou daquele som, ele simplesmente pega e atinge o que tem que atingir de maneira espetacular! Recomendo que ouçam no último volume e deixem-se levar!!!

A arte gráfica é um caso a parte, a capa foi desenhada pelo multi-artista, também da terrinha, Rimon Guimarães, que além de artista plástico é cantor e comedor de frutas de um projeto muito bacana que tá despontando por aqui o: Trombone de Frutas.

Rimon fez uso de uma linguagem primitivista para conceber o traço de suas mulheres, além do traço, o bom gosto na escolha das cores potencializa ainda mais a beleza da tela. Essa tela a princípio não tinha sido feita para o projeto da capa, a idéia de usá-la veio depois e acabou combinando perfeitamente com todo o conjunto. Vale conferir o Flick do Rimon. É isso aí! Agora é baixar e cair no sacundin!

Ah! Aguardem que virão mais santos de casa com seus milagres sonoros... "E vamo que vamo que mesmo com geada o som não pode parar!!!"


Para Baixar e Sair Sacundindo: Copacabana Club - 2011 - Tropical Splash




Para Assistir e Sacundir: Just Do It


Postado Por Marcel Cruz

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Fela Kuti And The Africa'70 - Open & Close

Fazia algum tempo que eu estava para fazer uma postagem sobre o Fela Kuti, acho que mais de dois anos, mas até então estava só na cabeça e nunca tinha tido o impulso de fazê-la de fato. Esse mês resolvi mergulhar na obra desse Nigeriano ímpar e me surpreendi com as várias descobertas a seu respeito, foram muitas informações que eu desconhecia, e que não poderiam ficar sem serem ao menos mencionadas.

Tarefa árdua a de falar da vida de Fela em apenas uma postagem, é bem possível que eu não dê conta mas...

Vamos lá:

Fela Ransome Kuti era o tipo de cara que poderia muito bem ser o "mauricinho" nigeriano, a familia era de uma linhagem da nobreza Nigeriana, ele tinha tudo, e em tese não precisava trabalhar ou ralar. Bom, felizmente isso não aconteceu. Fela, que foi enviado para estudar medicina em Londres, resolveu trocar o curso de medicina para o de música. Suas primeiras gravações datam de 1963 e sua banda de apoio era o Koola Lobitos.

Tanto a banda como o próprio Fela mudariam seus nomes. 1969 foi o ano divisor de águas, tanto na carreira artística como na visão política que Fela tinha até então. É gritante a mutação que ocorre na obra dele, vemos uma fortíssima influência do funk americano em seu álbum lançado naquele ano e intitulado "Fela Fela Fela". Junto com a overdose musical, Fela não só teve contato, como vivenciou alguns momentos do movimento black power que explodia nos EUA, a partir desses fatos o músico se transformou profundamente e voltou para Nigéria tornando-se um ativista político fervoroso.

Essa nova postura fez com que Fela colecionasse inimigos poderosos. Ao voltar, ele mudou o nome da banda para Nigéria 70, nome que foi efêmero (foi usado apenas na prensagem da primeira edição de um compacto), o nome definitivo que vigoraria até o início dos anos oitenta foi AFRICA 70.

Mas não foi apenas o nome que se alterou, o som também ganhou características peculiares, e, dessa maneira, nasceu o gênero "felakutiano" que foi batizado de Afrobeat.

Esse som começa a aparecer de maneira consistente a partir de 1970/71. Fato constatado no àlbum aqui presente. Um dos primeiros álbuns de uma discografia gigantesca, mais de 50 títulos, "Open & Close", pelo que pude constatar, foi um dos vários álbuns de Fela lançado naquele ano, encontrei ainda com essa data, entre outros, os títulos "Na Poi" e "Fela & Ginger Baker - Live".

Fela dizia que a música era sua arma e com ela denunciava muitas injustiças que presenciava. Delator dos poderosos, com sua música cutucava as feridas da desigualdade de todas as maneiras que podia. Ele queria ser presidente da Nigéria, chegou a se candidatar mas não foi eleito, e se intitulava como o "Black President". Essa postura teve seu preço, Fela sofreu represálias homéricas, numa delas, além de apanhar quase até a morte, teve a perda da mãe que morreu drásticamente pelas mãos de seus carrascos.

Um fato que me intriga bastante é o de que, levando em conta o objetivo de fazer de sua música uma arma e o formato que ele optou dar para suas gravações, temos um paradoxo curioso pois, Fela restringiu a sua obra apenas aos Nigerianos e não quis usar um formato popular que atingisse mais gente, procedimento que, apesar de posteriormente ter ganhado o mundo, poderia dar um poder ainda maior para sua empreitada. Deixem eu me explicar melhor:

Primeiro ponto: As músicas gravadas por Fela em sua esmagadora maioria possuem mais de 10 minutos de duração, isso significa que espaço em rádio é mais difícil de se conseguir, mesmo levando em conta que estamos nos anos 70, e não só isso, as letras de maneira geral só vão aparecer uns 3 ou 4 minutos depois de começada a música.

Segundo ponto: Fela, a partir do momento que gravava uma obra, não mais a tocava, ou seja, se você fosse a um show de Fela com a intenção e o desejo de ouvir ao vivo o que tinha ouvido no disco, você sairia frustrado, é claro que o show deveria ser genial e talvez você nem viesse a sentir falta, disso mas...

Terceiro ponto: As letras são uma mistura de dialetos africanos, apesar de que Fela criou um híbrido lingüístico entre esses dialetos e o inglês, alternando entre ambos. Mesmo assim acho que é restritivo. Paradoxal não?

De qualquer maneira Fela Kuti foi, embora não oficialmente, o rei negro da Nigéria, o Black President que deixou sua marca na história daquele país.

Tem tanta coisa interessante e curiosa pra se falar de Fela... e olha que eu nem mencionei seu harém que chegou a ter 27 mulheres...

Falando nisso e em tempo: a biografia de Fela acaba de ser traduzida para o português e ganha edição nacional, aos interessados esse é um excelente presente para se auto-presentear! rsrs

Está bom né? Me estendi demais, não sei nem se tiveram paciência de ler o post inteiro, mas se chegaram até aqui, valeu!!! rsrs.

Abraços e vamo que vamo que o som não pode parar!!!




Para Baixar e Sair Sacundindo: Fela Kuti And The Africa'70 - 1971 - Open & Close




Para Assistir e Sacundir: A Música é a Arma Parte 1 - Parte 2 - Parte 3 - Parte 4 - Parte 5 - Parte 6


Postado Por Marcel Cruz