Fazia algum tempo que eu estava para fazer uma postagem sobre o Fela Kuti, acho que mais de dois anos, mas até então estava só na cabeça e nunca tinha tido o impulso de fazê-la de fato. Esse mês resolvi mergulhar na obra desse Nigeriano ímpar e me surpreendi com as várias descobertas a seu respeito, foram muitas informações que eu desconhecia, e que não poderiam ficar sem serem ao menos mencionadas.
Tarefa árdua a de falar da vida de Fela em apenas uma postagem, é bem possível que eu não dê conta mas...
Vamos lá:
Fela Ransome Kuti era o tipo de cara que poderia muito bem ser o "mauricinho" nigeriano, a familia era de uma linhagem da nobreza Nigeriana, ele tinha tudo, e em tese não precisava trabalhar ou ralar. Bom, felizmente isso não aconteceu. Fela, que foi enviado para estudar medicina em Londres, resolveu trocar o curso de medicina para o de música. Suas primeiras gravações datam de 1963 e sua banda de apoio era o Koola Lobitos.
Tanto a banda como o próprio Fela mudariam seus nomes. 1969 foi o ano divisor de águas, tanto na carreira artística como na visão política que Fela tinha até então. É gritante a mutação que ocorre na obra dele, vemos uma fortíssima influência do funk americano em seu álbum lançado naquele ano e intitulado "Fela Fela Fela". Junto com a overdose musical, Fela não só teve contato, como vivenciou alguns momentos do movimento black power que explodia nos EUA, a partir desses fatos o músico se transformou profundamente e voltou para Nigéria tornando-se um ativista político fervoroso.
Essa nova postura fez com que Fela colecionasse inimigos poderosos. Ao voltar, ele mudou o nome da banda para Nigéria 70, nome que foi efêmero (foi usado apenas na prensagem da primeira edição de um compacto), o nome definitivo que vigoraria até o início dos anos oitenta foi AFRICA 70.
Mas não foi apenas o nome que se alterou, o som também ganhou características peculiares, e, dessa maneira, nasceu o gênero "felakutiano" que foi batizado de Afrobeat.
Esse som começa a aparecer de maneira consistente a partir de 1970/71. Fato constatado no àlbum aqui presente. Um dos primeiros álbuns de uma discografia gigantesca, mais de 50 títulos, "Open & Close", pelo que pude constatar, foi um dos vários álbuns de Fela lançado naquele ano, encontrei ainda com essa data, entre outros, os títulos "Na Poi" e "Fela & Ginger Baker - Live".
Fela dizia que a música era sua arma e com ela denunciava muitas injustiças que presenciava. Delator dos poderosos, com sua música cutucava as feridas da desigualdade de todas as maneiras que podia. Ele queria ser presidente da Nigéria, chegou a se candidatar mas não foi eleito, e se intitulava como o "Black President". Essa postura teve seu preço, Fela sofreu represálias homéricas, numa delas, além de apanhar quase até a morte, teve a perda da mãe que morreu drásticamente pelas mãos de seus carrascos.
Um fato que me intriga bastante é o de que, levando em conta o objetivo de fazer de sua música uma arma e o formato que ele optou dar para suas gravações, temos um paradoxo curioso pois, Fela restringiu a sua obra apenas aos Nigerianos e não quis usar um formato popular que atingisse mais gente, procedimento que, apesar de posteriormente ter ganhado o mundo, poderia dar um poder ainda maior para sua empreitada. Deixem eu me explicar melhor:
Primeiro ponto: As músicas gravadas por Fela em sua esmagadora maioria possuem mais de 10 minutos de duração, isso significa que espaço em rádio é mais difícil de se conseguir, mesmo levando em conta que estamos nos anos 70, e não só isso, as letras de maneira geral só vão aparecer uns 3 ou 4 minutos depois de começada a música.
Segundo ponto: Fela, a partir do momento que gravava uma obra, não mais a tocava, ou seja, se você fosse a um show de Fela com a intenção e o desejo de ouvir ao vivo o que tinha ouvido no disco, você sairia frustrado, é claro que o show deveria ser genial e talvez você nem viesse a sentir falta, disso mas...
Terceiro ponto: As letras são uma mistura de dialetos africanos, apesar de que Fela criou um híbrido lingüístico entre esses dialetos e o inglês, alternando entre ambos. Mesmo assim acho que é restritivo. Paradoxal não?
De qualquer maneira Fela Kuti foi, embora não oficialmente, o rei negro da Nigéria, o Black President que deixou sua marca na história daquele país.
Tem tanta coisa interessante e curiosa pra se falar de Fela... e olha que eu nem mencionei seu harém que chegou a ter 27 mulheres...
Falando nisso e em tempo: a biografia de Fela acaba de ser traduzida para o português e ganha edição nacional, aos interessados esse é um excelente presente para se auto-presentear! rsrs
Está bom né? Me estendi demais, não sei nem se tiveram paciência de ler o post inteiro, mas se chegaram até aqui, valeu!!! rsrs.
Abraços e vamo que vamo que o som não pode parar!!!
5 comentários:
Muito bem escrito, a leitura fluiu.
Valeu Marcel.
Um abraço.
Valladão - RJ
Marcel,
Será que vc poderia reabilitar o link para o disco do Charles Mingus, "Mingus Dynasty" (1959)?
Grande abraço!
Opa! Certeza, fique atento que vou subir o arquivo entre hoje amanhã. Abração e valeu o toque!
Abraço!!!
demais!!!!!
po cara se der coloque mais albuns desse genio
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