segunda-feira, 10 de junho de 2013

Os Sete Gatinhos - Nelson Rodrigues e Neville de Almeida

     Minha adoração pelo cinema nacional deve ter começado quando eu tinha uns 10 anos de idade lembro que nessa época passava, na extinta rede Manchete, uma vez por semana, não lembro qual o dia, um programa chamado Cinema Nacional e o foco como bem diz o nome era a produção cinematografica Brasileira, pelo que bem me lembro eram títulos que hoje estão classificados como pornochanchada, na época já tinha essa classificação mas eu desconhecia. Eu não tinha TV em casa então sempre dava um jeitinho de pousar na casa de minha avó no dia do "Cinema Nacional", pra mim era o dia da "sessão punheta" pois aos 10 anos de idade a parada começa a fazer sentido e é o periodo da vida que você mais se acaba na bronha, kkkkkk.  Lembro que eu esperava ansiosamente que todos fossem dormir, a sessão começava tarde justamente para que as crianças já estivessem dormindo, eu burlava, e fazia de tudo pra dormir no sofá da sala.
     De toda a safra que assisti um me marcou muito e hoje vejo que o filme em si era digamos que um pouco pesado prum figurinha de 10 anos assistir. Mas enfim, vi, gostei do que vi e nunca mais esqueci. O filme em questão se chama "Os Sete Gatinhos" adaptação cinematografica do diretor Neville D'Almeida para a peça homônima de Nelson Rodrigues. De todo o filme o que sempre ficou muito fresco na memória foi um momento hilário, e pra mim altamente subversivo, em que "Seu Noronha" o pai da família vê na parede do banheiro desenhos obscenos e palavrões, sai furioso chama a mulher e todas as filhas... a câmera fecha no rosto de seu Noronha (interpretado magistralmente por Lima Duarte) e ele profere de maneira espetacular:

"Eu quero saber!... Quem foi que desenhou, caraaalhinhos voadores na parede do banheiro!?"

     Geniaaaaaalllll!!!! Apesar de cada um ter vida própria e serem coisas bem distintas é comum ouvirmos frases do tipo "Ah o livro é muito melhor que o filme", esse é um caso que foge a regra e  arrisco a dizer que o Neville conseguiu engrandecer ainda mais a obra de Nelson, ele só não a supera porque o Nelson é o Nelson né minha gente. As adaptações do roteiro foram muito felizes, essa dos caralhinhos por exemplo nem é tão marcante no livro, até porque Nelson não usa esse termo, no livro a fala é a seguinte: 

"- Quero saber, e você vai dizer, quem é que anda escrevendo palavrões lá no banheiro!" 

      Vocês hão de concordar que no filme a parada se torna antológica! Além de um roteiro muito bem adaptado a direção de ator está espetacular, um dos atores que até hoje não consigo gostar muito é o Antonio Fagundes, no filme ele interpreta a personagem Bibelot, o cara está genial eu nem botei fé quando revi o filme, na real nem lembrava que ele estava no elenco, outros que protagonizam cenas impagáveis são Regina Casé e Mauricio do Vale. O que acontece de fato é que o Neville consegue extrair o máximo de cada ator e isso deixa o filme mais interessante a cada minuto assistido. A trilha sonora é de Erasmo Carlos, com participações d'A Cor do Som e de Lulu Dos Santos (sic). A peça estreou em 1958 e o filme em 1980. Acho que é isso, espero que vocês se divirtam tanto quanto eu ao rever esse que pra mim é um clássico dentro da minha autobiografia cinéfila.    






Postado Por Marcel Cruz    

Um comentário:

Valter Luiz disse...

Ei Marcel,

Sou um destes silenciosos e resistentes leitores.

Saúdo com veemência o seu retorno e esta novidade relativamente aos filmes.

Que viva a cultura da generosidade e do compartilhamento!

Grande abraço!

Valter Luiz