sábado, 29 de maio de 2010

Rogério Duprat, Gilberto Gil e Capinam - Brasil Ano 2000

Antes de começar o texto sobre o álbum quero deixar aqui meus sinceros agradecimentos ao especialíssimo Chico Arruda que ao saber que eu estava a procura deste álbum entrou em contato e teve a bondade de me enviar uma cópia dessa obra que até então estava perdida no tempo. Valeu mesmo Chico, essa postagem dedico a você!

Agora vamos ao disco:

O elo perdido! A lacuna que existia na discografia tropicalista acaba de ser preenchida!!! "Brasil Ano 2000", é a trilha do filme homônimo lançado em 1969. Os responsáveis pela trilha fazem parte da cúpula tropicalista. Gil, Capinam, Duprat e Caetano Veloso assinam as composições contidas no filme.

20 faixas das quais três são de Gil e Capinam, uma de Caetano Veloso e as 16 restantes levam a assinatura de Duprat. O tempo total do LP dura cerca de 32 minutos e carrega momentos memoráveis. De começo temos Gal Costa interpretando a excelente "Canção Da Moça", de Gil e Capinam, na ficha técnica não diz quem é o violonista que a acompanha, mas tenho quase certeza de que é o proprio Gil que o faz. Seguindo temos duas vinhetas de Duprat e outra canção de Gil e Capinam "Homen de Neandertal", interpretada por Gal e Bruno Ferreira. Mais uma vinheta e caimos no tema chamado "Retreta", tema que caberia em qualquer filme de Fellini sem destoar em nada, Duprat compôs um dobrado que deixaria Nino Rota morrendo de inveja (ah! Se Fellini tivesse ouvido isso! rsrs). Na sequência temos mais 5 vinhetas de tamanhos variáveis e que entre as quais Duprat desfolha citações de Felix Mendelssohn e de G. Rossini e são com elas que finaliza o Lado A do LP.

O Lado B abre com "Show de Me Esqueci", uma espécie de síntese do filme interpretada por Gal , Ênio Golçalves e Bruno Ferreira, nela estão praticamente quase todas as melodias que permeam o filme. O que segue é a composição "Coração", aqui Duprat re-utilizou a base do arranjo orquestral de "Coração Materno" gravado um ano antes para o LP "Tropicália ou Panis Et Circenses" e substituiu o vocal de Caetano Veloso por um solo de clarinete fazendo outra melodia, creio, sem dúvida alguma, que Duprat fez uso dos tapes de "Coração Materno" para o seu 'novo' "Coração" como uma espécie de play back, é curioso ouví-las uma seguida da outra.

Mais quatro vinhetas seguem na continuidade do álbum, duas merecem ser comentadas: "Duelo De Garfo e Faca", me arremete aos experimentos de Walter Smetak com suas propositais desafinações e diálogo entre os instrumentos e "Relógio Do Tempo", que devido a instrumentação escolhida é o tema mais singelo do álbum, impossível não gostar. Mais duas e concluímos o repertório do disco: "Escolha Da Liberdade", novamente Duprat revisita os temas que aparecem no filme e cria nova melodia que vai servir de ponte para o último tema do álbum. "Não Identificado", composição de Caetano Veloso que foi escolhida como canção adicional e que encaixou perfeitamente, não poderia ter sido melhor a escolha. Mais uma vez Gal deixa seu recado concluindo o volume de maneira magistral.

"...Vou andando, vou sonhando, vou sorrindo, seu sorriso sonho antigo em minha dor..."






Para Saber Mais: O Filme


Postado Por Marcel Cruz

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Edu Lobo - A Música De Edu Lobo Por Edu Lobo

O ano era 1965, não era exatamente uma estréia em disco, porém, foi como se fosse. "A Música de Edu Lobo Por Edu Lobo" é o primeiro álbum de Edu mas sua estréia em disco se deu de fato em 1963 com um EP(Compacto Duplo) que continha 4 composições bem na onda intimista "O amor, o sorriso e a flor" que a Bossa Nova trazia (achei estranho esse registro ser desconsiderado na discografia apresentada pelo site oficial de Edu Lobo). Fazendo um comparativo entre primeiro EP e primeiro LP vemos uma evolução surpreendente nos dois anos que separam ambos. Aqui temos um Edu bem mais maduro e com tendências evolutivas desenfreadas.

A banda de apoio que Edu chamou para o acompanhar foi o Tamba Trio que era encabeçado pelo genial Luis Eça ao piano, vocal e que foi responsável pelos arranjos do álbum, tinha ainda Bebeto Castilho que cantou, tocou baixo e flauta transversal e Rubens O'Hana que também cantou e tocou bateria. A alquimia perfeita que rolou entre Edu e o Tamba Trio ficou notadamente refletida no resultado final.

No volume temos 12 composições de Edu em parceria com Ruy Guerra, Vinícius de Moraes, Lula Freire e Oduvaldo Vianna Filho. Fazem parte desse repertório inicial de Edu as clássicas: "Borandá", "Chegança", "Arrastão" e "Reza". Meu destaque vai para a excelente "Resolução", composição de Edu que figura entre minhas preferidas dentro da obra 'Lobística', outra genial é "Zambi", música estopim para Edu começar a compor com Gianfrancesco Guarnieri a trilha para a peça "Arena Canta Zumbi" que estreou em maio de 1965.

Eu citei essas mas na real todo o álbum é de extremo bom gosto e da pra ouvir 'de cabo a rabo' sem se cansar, então é isso! Vam'borandá...


"... É vou contar o que há, é tempo de dizer quem sou / Se já cansei de lutar agora quero descansar / Tanto eu esperei para vencer e agora vejo que perder nada mais é do que cansar..."





Para Assistir e Sacundir: Borandá - Reza


Postado Por Marcel Cruz

terça-feira, 11 de maio de 2010

Edu Lobo - Sergio Mendes Presents Lobo

É incrível o que Edu Lobo conseguiu realizar em 1970, dois álbuns com várias canções em comum mas que são totalmente distintos entre si. Tudo bem que não foram realizados pelos mesmos produtores, fato a que se deve parte da façanha, mas de qualquer maneira creio que foi a palavra final de Edu que vigorou, e há de se concordar comigo... Quanto bom gosto!!!

Esse foi um álbum pensado para o mercado internacional e é aí que visualizamos o diferencial impresso por Sergio Mendes que assinou a produção da empreitada, tarefa que deve ter sido extremamente prazerosa e, pelo que constatamos nas palavras de Sergio impressa na contra-capa do álbum, gratificante, motivo de orgulho! E não era pra menos, Edu era da linhagem direta precedente de Tom Jobim, Baden Powell e afins. Aliás, uma coisa que não sei se esta seria a postagem ideal de se comentar, mas que mesmo assim o farei: a meu ver Edu Lobo é junto com Moacir Santos e Baden precursor e também criador dos Afro-Sambas um gênero que ficou diluído no movimento Bossa Nova mas que é bem distinto e genialíssimo, esse é um fato que não vejo ninguém comentar. Mas voltando...

Esse álbum como o postado anteriormente foi gravado em Los Angeles CA em 1970, esse especificamente em Julho daquele ano. Com produção de Sergio Mendes o álbum também contou com instrumentistas do mais alto calibre. Lá estavam novamente o trio Hermeto Pascoal - Piano, Piano Eletrico - Flauta, Airto Moreira - Percussão e Cláudio Slon - Bateria, músicos que gravaram o "Cantiga De Longe", e mais Oscar Castro Neves junto com Edu nos violões/guitarras, Sergio Mendes assumiu junto com Hermeto o Piano e além disso tudo ainda temos um quarteto de cordas, um fagotista (Norman Herzberg) e o vocal de Gracinha Leporace em algumas das faixas. Quer mais? Bom, Edu, Sergio e Hermeto assinam os arranjos, nos três nomes temos a tag de "co-arranger".

O volume é composto por 9 faixas, quase todas escolhidas a dedo, dando um breve panorama da produção de Edu entre 1966 e 1970. Sete delas de autoria de Edu e seus parceiros, uma de Hermeto e a última, totalmente desnecessária a meu ver, é uma releitura de Lennon e McCartney.

A abertura do álbum ficou por conta de "Zanzibar", com um arranjo menos cru que o original, aqui Edu é acompanhado por Gracinha Leporace nos vocais, na mesma linha Edu segue com "Ponteio", música de Edu e Capinam que até então só havia sido lançada em compacto e no álbum do III Festival Da Record, a versão que temos aqui também tem a participação de Gracinha Leporace nos vocais. Fica bem evidente o direcionamento que deram para a concepção dos arranjos se fizermos a comparação com as versões originais, moldaram tudo de maneira magistral para atingir outro mercado. Seguindo temos ainda no Lado A: "Even Now", versão em inglês feita por Paula Stone para "Cantiga De Longe" e "Crystal Illusions" versão em inglês de Lani Hall para "Memórias de Marta Saré".

O Lado B inicia com uma versão excelente de "Casa Forte" seguida de outra parceria de Edu e Capinam lançada originalmente em 1967: "Jangada". Na sequência temos uma composição de Hermeto Pascoal chamada "Sharp Tongue" e mais uma versão em inglês de outra composição que se tornou clássica de Edu e Torquato Neto: "To Say Goodbye", a nossa "Pra Dizer Adeus", a adaptação para o inglês foi obra de Lani Hall. Pra mim o álbum deveria ter acabado aqui, mas não acaba.

Não sei se foi pra encher linguiça, ou por estratégia mercadológica, ou pressão da gravadora, ou sei lá o que, enfim, a última faixa do álbum é uma versão de "Hey Jude", eu particularmente acho essa música uma grande porcaria, rsrs, não sei se é por causa do Roupa Nova ou porque não gosto mesmo, apesar que o arranjo ficou legal, mas puta que o pariu! Tanta música legal dos Beatles pra fazer versão e eles escolhem logo essa! Pior que isso só Ob-la-di Ob-la-dá, rsrsrsrs. Mas tudo bem o resto é realmente genial!!!!

Espero que gostem!!!


"...Ob-la-di Ob-la-dá..." Ooops! "...Era um era dois era cem, Era o mundo chegando e ninguém..."



Para Baixar e Sair Sacundindo: Edu Lobo - 1970 - Sergio Mendes Presents Lobo


Para Saber Mais: Álbum Release


Para Assistir e Sacundir: III Festival da Record - Ponteio


Postado Por Marcel Cruz

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Edu Lobo - Cantiga De Longe


É claro que eu conhecia a obra de Edu Lobo, afinal de contas o cara é um ícone da música brasileira, quando adolescente comprei alguns de seus primeiros álbuns em vinil, mas na época foi apenas mais um nome na minha discoteca. Lembro que quando trabalhei na Rádio Educativa uma das vinhetas de abertura do programa da tarde tinha "Zanzibar" como música de fundo e "Ponteio" também era vinheta de abertura de um programa homônimo.
Bom, várias outras canções de Edu me rodeavam com frequência e eu nem "tchum". Lembro que a primeira música de Edu que me chamou bastante atenção foi "Resolução", canção que faz parte de seu segundo álbum "A Música De Edu Lobo Por Edu Lobo" de 1965, inclusive foi ela que me impulsionou a comprá-lo.
Algum tempo depois parei para ouvir Edu com calma e fiquei extremamente feliz com minha redescoberta. Três álbuns de Edu me deixaram realmente chapado e com aquela sensação de estar fora de órbita: "A Música De Edu Lobo Por Edu Lobo", "Sergio Mendes Presents Lobo" e "Cantiga De Longe". Hoje falarei de: "Cantiga De Longe" lançado em 1970.
O álbum aqui presente foi produzido por Aloisio De Oliveira, gravado em Los Angeles, conta com arranjos de Hermeto Pascoal e Edu Lobo e o lançamento no Brasil saiu pela gravadora Elenco. O time de músicos, como não poderia deixar de ser, é excelente. Existem boatos de que é um disco de Edu Lobo com o Quarteto Novo, essa informação é falsa, existe sim a participação de dois do integrantes mas não do Quarteto completo pois o mesmo havia se desfeito um ano antes, 1969. Participam do álbum: Hermeto Pascoal ex-Quarteto Novo, que além de tocar flauta e piano assina os arranjos, Airto Moreira, que era o outro ex-integrante do Quarteto Novo, na percussão, José Marino no baixo, Roberto Slon na bateria, Edu Lobo voz e violão e Wanda Sá que participa da faixa "Aguaverde".
O repertório do álbum é originalmente composto por 11 composições. A edição que vocês irão baixar contém 12 pois acrecentei um bônus. Vamos as composições:
O álbum abre com a genial "Casa Forte", canção originalmente gravada por Elis Regina no ano anterior, mas que aqui ganha sua versão definitiva, o que segue é o "Frevo de Itamaracá/Come e Dorme" faixa que contém dois frevos, um de Edu e outro de Nelson Ferreira. A singela "Mariana, Mariana", faixa seguinte e parceria de Edu e Ruy Guerra, tem uma introdução que pode ter sido precursora da excelente "Beatriz" que Edu comporia em 1983 para o espetáculo e disco do "Grande Circo Místico", pelo menos uma me lembrou a outra.
A segunda releitura do álbum é a marchinha "Zum-Zum" composição de Paulo Soledade e Fernando Lobo, pai de Edu. Seguindo temos a excelente "Aguaverde" que conta com a participação de Wanda Sá nos vocais e fechando o Lado A do álbum temos a faixa título "Cantiga De Longe", uma das melhores composições de Edu com um arranjo ultra moderno, só a introdução dessa faixa vale o disco todo, é uma de minhas preferidas no álbum.
O Lado B abre com outra que adoro, "Na Feira De Santarém", parceria de Edu e Guarnieri, os diálogos contidos no arranjo são geniais, na sequência temos "Zanzibar", Hermeto quebra tudo no improviso final. Outra parceria entre Edu e Guarnieri que aparece no álbum é "Marta e Romão" que juntamente com "Memórias De Marta Saré" fizeram parte da trilha composta para a montagem teatral da peça de Guarnieri. Em seguida temos outra marchinha, "Rancho de ano Novo", as intervenções da flauta de Hermeto dão um toque especialíssimo na canção, fechando o volume temos "Cidade Nova".
Como bônus acrescentei "Memórias de Marta Saré", que ficou entre as finalistas do 4º Festival da Record em 1968. Escutem esse álbum com calma e muita atenção, garanto que vai valer cada segundo.
"...Se troca se vende, quem é que vai comprar, Se troca se vende, quem é que vai levar..."



Para Baixar e Sair Sacundindo: Edu Lobo - 1970 - Cantiga De Longe


Para Saber Mais: Edu Lobo Home


Para assistir e Sacundir: Memórias de Marta Assaré


Postado Por Marcel Cruz